Fed corta juros dos EUA pela 2ª vez seguida: entenda o que muda na economia americana e o impacto para o Brasil

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10/29/2025

O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (29) um novo corte na taxa básica de juros do país. A redução foi de 0,25 ponto percentual, levando os juros para a faixa de 3,75% a 4% ao ano, o menor patamar desde novembro de 2022.
A decisão, amplamente esperada por analistas, ocorre em meio à paralisação parcial do governo americano (shutdown) e diante de sinais claros de desaceleração no mercado de trabalho.

Este é o segundo corte consecutivo realizado pelo Fed. Na reunião anterior, em setembro, a instituição havia reduzido a taxa pela primeira vez em nove meses, encerrando um longo período de estabilidade monetária.

Por que o Fed cortou os juros novamente?

O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) justificou a decisão com base na combinação de emprego enfraquecido e inflação abaixo das expectativas.
Em comunicado, o Fed destacou que “os ganhos de emprego desaceleraram ao longo do ano e a taxa de desemprego subiu ligeiramente”, sinalizando uma economia que perde fôlego.

Segundo o presidente do Fed, Jerome Powell, as “condições do mercado de trabalho parecem estar se desacelerando gradualmente”.
Com menos vagas sendo criadas e empresas mais cautelosas, o banco central dos EUA decidiu priorizar a sustentação do emprego em vez de continuar combatendo a inflação com juros altos.

O shutdown do governo americano, que já dura 29 dias, também pesou na decisão.
A paralisação impede a divulgação de vários dados oficiais, dificultando o acompanhamento em tempo real da economia — o que aumenta o grau de incerteza nas decisões de política monetária.

O que muda com juros mais baixos nos EUA

O mandato duplo do Fed exige equilíbrio entre dois objetivos: manter o pleno emprego e controlar a inflação.
Por isso, cortes de juros são usados quando há sinais de desaquecimento, mesmo que ainda exista alguma pressão inflacionária.

Com juros mais baixos:

  • Empresas tendem a investir e contratar mais, já que o crédito fica mais barato.

  • Consumidores aumentam o consumo, estimulando a economia.

  • O risco, porém, é uma possível reaceleração da inflação nos próximos meses.

O FOMC enfatizou que continuará “monitorando atentamente as novas informações” e que está “preparado para ajustar a política monetária se surgirem riscos que ameacem seus objetivos”.

O que disse Jerome Powell

Em coletiva após a decisão, Jerome Powell destacou que ainda não há um caminho definido para dezembro.

“Uma nova redução da taxa básica na próxima reunião não é uma conclusão inevitável. Longe disso — a política monetária não está em um curso pré-determinado”, disse.

A fala de Powell esfriou o otimismo do mercado, que esperava mais cortes até o fim do ano.
Logo após o pronunciamento, as bolsas de Nova York recuaram e investidores reajustaram as apostas sobre o ritmo de flexibilização monetária.

O Fed também anunciou o fim do aperto quantitativo (QT) — medida que vinha reduzindo o volume de títulos públicos mantidos pela instituição.
Com o QT encerrado, o banco central voltará a reinvestir recursos e manter a liquidez no sistema financeiro, o que deve baratear o crédito e dar fôlego extra à economia.

Trump pressiona o Fed e aumenta a tensão política

Desde que assumiu o cargo, o presidente americano Donald Trump vem travando uma relação tensa com o Fed e com Powell, a quem ele chama frequentemente de “incompetente”.
Em um jantar com empresários em Tóquio, na véspera da decisão, Trump voltou a criticar o chefe do banco central e afirmou que pretende substituí-lo em breve.

Além disso, Trump tenta influenciar a composição da diretoria do Federal Reserve, que tem sete membros.
A Suprema Corte dos EUA deve analisar em janeiro a tentativa do republicano de demitir Lisa Cook da diretoria. Caso seja bem-sucedido, Trump garantirá duas cadeiras alinhadas à sua política econômica, o que pode aumentar sua influência sobre os 12 bancos regionais do Fed.

Economistas alertam que esse tipo de interferência pode comprometer a independência do banco central — um dos pilares da credibilidade da política monetária americana.

Impactos globais: o que muda para o Brasil e outros países emergentes

As decisões do Fed têm efeito direto sobre a economia global.
Quando o banco central dos EUA reduz os juros, o retorno dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) diminui, tornando os investimentos em outros países mais atrativos.

Isso tende a gerar:

  • Entrada de capital estrangeiro em economias emergentes, como o Brasil;

  • Valorização do real frente ao dólar;

  • Redução na pressão cambial e inflacionária;

  • E possibilidade de o Banco Central do Brasil acelerar cortes na Selic.

Em outras palavras, o movimento do Fed pode abrir espaço para juros mais baixos também por aqui, impulsionando o crédito, os investimentos e o consumo interno.

Conclusão: um sinal de virada no ciclo monetário global

O novo corte de juros do Fed indica uma mudança importante na política econômica mundial.
Depois de dois anos de aperto monetário intenso para conter a inflação pós-pandemia, as principais economias começam a afrouxar a política monetária para evitar uma recessão.

O Fed envia um recado claro: a prioridade, agora, é proteger o emprego e sustentar o crescimento — mesmo que o risco inflacionário ainda exista.

Para o Brasil, a notícia é positiva. Um ambiente de juros mais baixos nos EUA tende a aliviar o câmbio, atrair investimentos e reforçar o ciclo de corte da Selic.
O desafio, no entanto, é manter a confiança fiscal e a estabilidade política para aproveitar esse novo cenário global.

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