Caso Banco Master: Uma Crise Bancária em Construção
FINANÇAS & INVESTIMENTOSDESTAQUESATUALIDADES & TENDÊNCIAS


Origens e expansão acelerada
O Banco Master (antiga Máxima) ganhou destaque nos últimos anos por sua estratégia agressiva de captação: oferecia CDBs (Certificados de Depósito Bancário) com rendimentos muito acima do mercado — há registros de até 140% do CDI.
O modelo funcionava assim: investidores colocavam dinheiro nesses títulos com alta remuneração, e o banco destinava esses recursos a ativos considerados mais arriscados ou de liquidez difícil, como precatórios (dívidas judiciais) ou participações em empresas frágeis.
Críticos afirmam que parte dos ativos do banco estaria “supervalorizada” no balanço, levantando dúvidas sobre a solidez real do patrimônio da instituição.
O plano de aquisição pelo BRB e a escalada institucional
Em março de 2025, foi anunciado que o Banco de Brasília (BRB) compraria uma participação majoritária no Master: 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais, o que totalizaria cerca de 58% do capital do banco Master.
O valor apontado para a operação era de cerca de 2 bilhões de reais, pagos ao longo de até seis anos, segundo o CEO do BRB. Contudo, o acordo não incluía todos os ativos: parte considerada “problemática” ficaria de fora, envolvendo títulos de difícil avaliação.
Paralelamente, o Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) abriu inquérito civil para investigar essa compra, apurando se houve irregularidades na venda.
Também ocorreram reuniões entre o Banco Central (BC) e grandes instituições financeiras para discutir os riscos da operação e como isso afetaria o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) — mecanismo importante para proteger depositantes em caso de falência de bancos menores.
As denúncias, a investigação e o risco ao FGC
A acusação principal contra o Banco Master está relacionada à gestão de ativos de alto risco. Fontes apontam que muitos destes ativos — especialmente os precatórios — teriam sido usados para inflar o balanço.
Há também investigações da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre aportes do banco em empresas sem capacidade financeira para justificar tais investimentos, o que pode configurar fraude ou gestão temerária.
Outro ponto sensível é o FGC: uma parte considerável dos títulos emitidos pelo Master estaria coberta por esse fundo, gerando preocupação de que uma eventual crise no Master pudesse impactar o FGC e, por consequência, outros investidores protegidos por ele.
Além disso, parlamentares alertam que a operação de compra pelo BRB poderia expor o patrimônio público, dado o histórico conturbado do Master.
Rejeição pelo Banco Central e consequências
Em setembro de 2025, o Banco Central (BC) rejeitou a aquisição proposta pelo BRB. Segundo o BC, o negócio apresentava riscos elevados porque deixava fora uma grande parte dos ativos mais frágeis, os quais foram considerados “toxificados” para a instituição que compraria.
Fontes também apontam que esses ativos excluídos chegavam a 23 bilhões de reais — valores bastante relevantes para a solvência futura do Master.
Com isso, a operação de entrada do BRB como controlador majoritário foi suspensa, e as incertezas sobre a real saúde financeira do banco Master se tornaram ainda mais evidentes.
Propostas alternativas e desdobramentos
Com a rejeição do BC, outras frentes surgiram para lidar com a crise do Master:
O BTG Pactual, banco de investimento, demonstrou interesse em comprar parte dos ativos não assumidos pelo BRB.
O Ministério Público segue acompanhando de perto, especialmente sobre possíveis irregularidades societárias.
Paralelamente, a Polícia Federal iniciou investigações mais profundas, em especial após a deflagração da chamada Operação Carbono Oculto, que mira fraudes na emissão de ativos pelo Master.
O Banco Central também é pressionado para fazer uma “avaliação honesta” do patrimônio real do Master, já que analistas apontam supervalorização.
Personagem central: Daniel Vorcaro
O protagonista de grande parte desse enredo é Daniel Vorcaro, dono e presidente do Banco Master.
Vorcaro acumulou poder por meio da emissão de títulos de alto retorno, da compra agressiva de ativos e de expansão rápida. No entanto, seu modelo de negócios gerou suspeitas justamente por envolver ativos arriscados — e agora ele está sob pressão institucional e jurídica.
Impacto no sistema bancário brasileiro
O caso Master levantou duas grandes preocupações para o sistema financeiro:
Risco de contágio no FGC: se o Master entrar em crise, pode haver pressão sobre o Fundo Garantidor de Crédito.
Credibilidade regulatória: a rejeição da compra pelo BRB e as investigações em curso colocam em xeque a capacidade do Banco Central de monitorar a expansão agressiva de bancos médios.
Além disso, o episódio alimenta o debate sobre inovação bancária vs. risco sistêmico: até que ponto bancos menores podem crescer rápido oferecendo produtos muito atrativos para investidores, sem comprometer a estabilidade?
Conclusão: um caso em aberto
O caso Banco Master é uma das crises mais complexas do sistema financeiro brasileiro recente. Ele mistura:
Um modelo de captação extremamente agressivo (CDBs super rentáveis)
Ativos de difícil avaliação (precatórios, participações societárias)
Investigações regulatórias (MP, CVM) e judiciais (PF)
Negociações frustradas de compra (com BRB)
Risco sobre o FGC e todo o sistema de garantias
A liquidação ou reestruturação do Master ainda não é um desfecho certo, mas os riscos ficaram evidentes. Para o mercado, é um momento de alerta: a “rentabilidade fácil” pode vir acompanhada de perigos reais.
