AWS e Cloudflare: por que os apagões na internet global estão cada vez mais comuns?
TECH & INOVAÇÃODESTAQUES


Os “apagões” digitais voltaram a preocupar o mundo nesta terça-feira (18), quando uma falha generalizada na Cloudflare, uma das principais empresas de infraestrutura da internet, deixou serviços como X (Twitter), ChatGPT, Canva, Discord, Letterboxd e vários portais de notícias inacessíveis por mais de uma hora.
Essa interrupção não é um caso isolado. Em menos de um mês, falhas na Amazon Web Services (AWS) e outras gigantes da tecnologia já haviam provocado instabilidades globais, levantando um alerta importante: a internet mundial depende de poucos provedores — e quando um deles falha, o impacto é massivo.
A seguir, entenda o que aconteceu, por que isso se repete e quais os riscos de concentrar a internet mundial em poucas empresas.
O que aconteceu com a Cloudflare?
Por volta das 8h (horário de Brasília), a Cloudflare registrou um “pico de tráfego incomum”, segundo comunicado oficial. Essa sobrecarga repentina afetou o tráfego que passava pelos servidores da empresa — especialmente pelos sistemas nos Estados Unidos — e isso fez com que páginas e aplicativos ao redor do mundo apresentassem:
Erros de carregamento
Lentidão
Páginas que não abriam
Mensagens de “Connection Error”
Às 10h13, a empresa informou que havia aplicado correções e que os sistemas estavam se recuperando. No entanto, a origem exata do problema não foi divulgada — e, segundo especialistas, nem deve ser.
O que é a Cloudflare e por que ela é tão importante?
A Cloudflare é uma empresa americana especializada em:
Proteção contra ataques cibernéticos (como DDoS)
Aceleração de sites e aplicativos
Intermediação de tráfego entre usuários e servidores
Ela funciona como um grande “posto de controle” da internet, armazenando em servidores espalhados pelo mundo arquivos essenciais para o carregamento de sites — como imagens, scripts e arquivos de estilo.
Na prática:
Quando você acessa um site, a Cloudflare entrega parte do conteúdo a partir do servidor mais próximo.
Se há ataques, ela bloqueia antes de chegar ao site original.
Se ela falha, milhares de serviços ficam indisponíveis — exatamente o que ocorreu.
Segundo Raphael Farinazzo, COO da PM3, a Cloudflare é extremamente eficiente, mas exatamente por estar “no meio do caminho”, um problema interno afeta automaticamente:
➡️ Todos os sites que dependem dela
➡️ Todos os aplicativos que passam pelo seu sistema de proteção
Por que a Cloudflare não revela a causa da falha?
A empresa afirma que ainda investiga o motivo do aumento repentino de tráfego.
Mas, de acordo com Farinazzo, não revelar detalhes técnicos é uma estratégia de segurança, não falta de transparência:
“Quando você revela detalhes demais, expõe o funcionamento interno — e isso inclui justamente como o sistema se protege. Quanto menos informação pública sobre como derrubar a estrutura, mais seguro o serviço fica.”
Em outras palavras: explicar exatamente o que ocorreu poderia dar pistas para criminosos explorarem novas vulnerabilidades.
A falha da Cloudflare não foi a primeira — nem deve ser a última
Nos últimos meses, diversos eventos semelhantes aconteceram:
20 de outubro – Apagão global da AWS
Uma falha no DynamoDB, banco de dados da Amazon, tirou do ar:
Zoom
iFood
Mercado Livre
Mercado Pago
Alexa
Prime Video
Slack
Signal
Duolingo
A instabilidade durou praticamente o dia inteiro.
Falha da CrowdStrike (2024)
Travou computadores no mundo todo
Impactou hospitais, companhias aéreas e bancos
Causou prejuízo estimado de US$ 5 bilhões
Colapso da AT&T (2024)
Clientes ficaram 11 horas sem conexão
Serviços emergenciais foram prejudicados
Por que esses apagões estão acontecendo com mais frequência?
Especialistas apontam um ponto crítico: a internet global está concentrada nas mãos de poucos provedores.
Hoje, grande parte dos serviços depende de apenas três pilares:
Amazon Web Services (AWS)
Cloudflare
Google Cloud / Microsoft Azure (dependendo da arquitetura)
Isso significa que: Quando um desses provedores cai, uma parcela enorme da internet cai junto.
Essa dependência cria um cenário frágil e perigoso — especialmente para serviços essenciais, bancos, apps de delivery, e-commerce e plataformas de trabalho.
Como as empresas podem se proteger?
Segundo Farinazzo, existem dois caminhos:
1. Reduzir o risco
Implantar sistemas mais robustos, com redundância, múltiplos servidores, rotas alternativas.
2. Reduzir o impacto
Criar planos de contingência:
servidores espelhados
backups em nuvem dupla
tráfego distribuído entre provedores
Mas isso tem um problema: Custa (muito) caro.
Empresas menores e médias simplesmente não conseguem arcar com estruturas duplicadas. Mesmo empresas grandes às vezes fazem escolhas arriscadas:
“Para evitar qualquer queda, algumas precisariam pagar duas ou três vezes mais. Muitas avaliam que o custo é maior do que o prejuízo eventual.”
Por isso, mesmo sabendo dos riscos, a maioria permanece dependente de poucos provedores.
Conclusão: apagões devem continuar — e a internet vai precisar se reinventar
O aumento de falhas em gigantes como Cloudflare, AWS, CrowdStrike e AT&T indica um cenário claro:
⚠️ A internet atual é concentrada demais para ser verdadeiramente resiliente.
Enquanto houver essa dependência de poucos provedores, apagões globais vão continuar acontecendo — e cada vez com impactos maiores. O desafio dos próximos anos será encontrar soluções que equilibram:
segurança
custo
redundância
resiliência
Até lá, quedas como a de hoje devem continuar fazendo parte da rotina da internet mundial.
