AWS e Cloudflare: por que os apagões na internet global estão cada vez mais comuns?

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11/18/2025

Os “apagões” digitais voltaram a preocupar o mundo nesta terça-feira (18), quando uma falha generalizada na Cloudflare, uma das principais empresas de infraestrutura da internet, deixou serviços como X (Twitter), ChatGPT, Canva, Discord, Letterboxd e vários portais de notícias inacessíveis por mais de uma hora.

Essa interrupção não é um caso isolado. Em menos de um mês, falhas na Amazon Web Services (AWS) e outras gigantes da tecnologia já haviam provocado instabilidades globais, levantando um alerta importante: a internet mundial depende de poucos provedores — e quando um deles falha, o impacto é massivo.

A seguir, entenda o que aconteceu, por que isso se repete e quais os riscos de concentrar a internet mundial em poucas empresas.

O que aconteceu com a Cloudflare?

Por volta das 8h (horário de Brasília), a Cloudflare registrou um “pico de tráfego incomum”, segundo comunicado oficial. Essa sobrecarga repentina afetou o tráfego que passava pelos servidores da empresa — especialmente pelos sistemas nos Estados Unidos — e isso fez com que páginas e aplicativos ao redor do mundo apresentassem:

  • Erros de carregamento

  • Lentidão

  • Páginas que não abriam

  • Mensagens de “Connection Error”

Às 10h13, a empresa informou que havia aplicado correções e que os sistemas estavam se recuperando. No entanto, a origem exata do problema não foi divulgada — e, segundo especialistas, nem deve ser.

O que é a Cloudflare e por que ela é tão importante?

A Cloudflare é uma empresa americana especializada em:

  • Proteção contra ataques cibernéticos (como DDoS)

  • Aceleração de sites e aplicativos

  • Intermediação de tráfego entre usuários e servidores

Ela funciona como um grande “posto de controle” da internet, armazenando em servidores espalhados pelo mundo arquivos essenciais para o carregamento de sites — como imagens, scripts e arquivos de estilo.

Na prática:

  • Quando você acessa um site, a Cloudflare entrega parte do conteúdo a partir do servidor mais próximo.

  • Se há ataques, ela bloqueia antes de chegar ao site original.

  • Se ela falha, milhares de serviços ficam indisponíveis — exatamente o que ocorreu.

Segundo Raphael Farinazzo, COO da PM3, a Cloudflare é extremamente eficiente, mas exatamente por estar “no meio do caminho”, um problema interno afeta automaticamente:

➡️ Todos os sites que dependem dela
➡️ Todos os aplicativos que passam pelo seu sistema de proteção

Por que a Cloudflare não revela a causa da falha?

A empresa afirma que ainda investiga o motivo do aumento repentino de tráfego.

Mas, de acordo com Farinazzo, não revelar detalhes técnicos é uma estratégia de segurança, não falta de transparência:

“Quando você revela detalhes demais, expõe o funcionamento interno — e isso inclui justamente como o sistema se protege. Quanto menos informação pública sobre como derrubar a estrutura, mais seguro o serviço fica.”

Em outras palavras: explicar exatamente o que ocorreu poderia dar pistas para criminosos explorarem novas vulnerabilidades.

A falha da Cloudflare não foi a primeira — nem deve ser a última

Nos últimos meses, diversos eventos semelhantes aconteceram:

20 de outubro – Apagão global da AWS

Uma falha no DynamoDB, banco de dados da Amazon, tirou do ar:

  • Zoom

  • iFood

  • Mercado Livre

  • Mercado Pago

  • Alexa

  • Prime Video

  • Slack

  • Signal

  • Duolingo

A instabilidade durou praticamente o dia inteiro.

Falha da CrowdStrike (2024)

  • Travou computadores no mundo todo

  • Impactou hospitais, companhias aéreas e bancos

  • Causou prejuízo estimado de US$ 5 bilhões

Colapso da AT&T (2024)

  • Clientes ficaram 11 horas sem conexão

  • Serviços emergenciais foram prejudicados

Por que esses apagões estão acontecendo com mais frequência?

Especialistas apontam um ponto crítico: a internet global está concentrada nas mãos de poucos provedores.

Hoje, grande parte dos serviços depende de apenas três pilares:

  1. Amazon Web Services (AWS)

  2. Cloudflare

  3. Google Cloud / Microsoft Azure (dependendo da arquitetura)

Isso significa que: Quando um desses provedores cai, uma parcela enorme da internet cai junto.

Essa dependência cria um cenário frágil e perigoso — especialmente para serviços essenciais, bancos, apps de delivery, e-commerce e plataformas de trabalho.

Como as empresas podem se proteger?

Segundo Farinazzo, existem dois caminhos:

1. Reduzir o risco

Implantar sistemas mais robustos, com redundância, múltiplos servidores, rotas alternativas.

2. Reduzir o impacto

Criar planos de contingência:

  • servidores espelhados

  • backups em nuvem dupla

  • tráfego distribuído entre provedores

Mas isso tem um problema: Custa (muito) caro.

Empresas menores e médias simplesmente não conseguem arcar com estruturas duplicadas. Mesmo empresas grandes às vezes fazem escolhas arriscadas:

“Para evitar qualquer queda, algumas precisariam pagar duas ou três vezes mais. Muitas avaliam que o custo é maior do que o prejuízo eventual.”

Por isso, mesmo sabendo dos riscos, a maioria permanece dependente de poucos provedores.

Conclusão: apagões devem continuar — e a internet vai precisar se reinventar

O aumento de falhas em gigantes como Cloudflare, AWS, CrowdStrike e AT&T indica um cenário claro:

⚠️ A internet atual é concentrada demais para ser verdadeiramente resiliente.

Enquanto houver essa dependência de poucos provedores, apagões globais vão continuar acontecendo — e cada vez com impactos maiores. O desafio dos próximos anos será encontrar soluções que equilibram:

  • segurança

  • custo

  • redundância

  • resiliência

Até lá, quedas como a de hoje devem continuar fazendo parte da rotina da internet mundial.

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